quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Estádios Lotados na Europa e Estádios Brasileiros às Moscas


     Algo que eu sempre achei intrigante, como amante do futebol, foi o fato de campeonatos como a Premier League (campeonato inglês), a Bundesliga (campeonato alemão) e a NFL (liga estadunidense de futebol americano) terem os estádios cheios em praticamente todos os jogos. Então eu comparo com a Série A do nosso querido Campeonato Brasileiro de Futebol, em que a melhor média de público é a do Corinthians com 25.212 espectadores por jogo e uma taxa de ocupação média do estádio de 63%. Esse desempenho é impressionante para os padrões brasileiros de organização de futebol, no entanto para os padrões dos países citados seria um atestado de desperdício de recursos, pois mais de 14.000 lugares em média deixaram de ser ocupados.
     Logo nos debates esportivos aparecem teorias para explicar essa diferença de público entre os torneios brasileiros, ingleses e alemães. Duas se destacam. A primeira teoria é que ingleses e alemães gostam mais de futebol do que os brasileiros, portanto aqueles estão mais dispostos a assistir todos os jogos do time do coração, mesmo que o jogo seja contra um time pequeno desconhecido que acabou de subir da divisão inferior, ou mesmo que o jogo seja num dia em que as condições meteorológicas não favoreçam ao comparecimento a ambientes abertos. Essa teoria é a preferida dos dirigentes incompetentes e de alguns jornalistas aliados daqueles.
     A segunda e mais aceita teoria é a incompetência gerencial de todos os dirigentes do futebol brasileiro. Essa teoria diz que os dirigentes não têm conhecimento, habilidade ou vontade para encher os estádios em todos os jogos dos seus times. É uma teoria muito difundida e tem um fundo de verdade. Muitos dirigentes administram os clubes de forma patrimonialista, distribuindo ingressos “gratuitamente” para outros dirigentes, conselheiros, sócios, torcidas organizadas, jornalistas com o objetivo de conseguir apoio político dentro do clube (ou fora do clube, no caso dos jornalistas) ou, simplesmente, para silenciar uma potencial oposição. Também desconhecem ferramentas gerenciais básicas como os 4 P's do Marketing ou gerenciamento da capacidade da Gestão de Operações. Essa teoria da incompetência gerencial não está errada, mas não é suficiente para explicar a baixa frequência do torcedor brasileiro aos estádio.
     No entanto, um terceiro fator é desconsiderado nessa questão dos estádios vazios no Brasil: a intervenção estatal. Vamos tentar explicar. Os times ingleses da Premier League têm média de ocupação dos estádios passando os 90%. O Manchester United, por exemplo, tem média de público de 75.387 espectadores por jogo, possuindo um estádio com capacidade para 75.811, média de ocupação de 99,4%. Como os times ingleses conseguem isso? Simples, o time vende todos os ingressos antes de começar a temporada em forma de carnê. Um torcedor antes de começar a temporada compra um carnê com todos os jogos do time em casa na temporada. Não há venda de ingressos para um único jogo. Com a exceção do mercado secundário, comprar de segunda mão.

Old Trafford Stadium em um dia de jogo qualquer.
     Então você se pergunta o que venda de carnês para toda temporada tem a ver com intervenção estatal. Tem a ver simplesmente porque o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 39, proíbe tal prática, chamada informalmente de venda casada. A penalidade para tal prática é multa. Os nossos dirigentes  podem até tentar vender uma parte dos assentos no estádio em forma de carnê para toda temporada, mas não podem vender a lotação do estádio todo dessa forma, sem deixar de vender para aqueles que querem assistir a um único jogo (normalmente clássicos e finais de campeonato são os  mais escolhidos). O resultado disso é que a venda de carnês para toda temporada no Brasil é um fracasso. Se há opção de comprar apenas os ingressos para os melhores jogos, os jogos menos visados são escanteados. Outro atrativo do espetáculo, o estádio lotado, é um grande atrativo nesses eventos. Torcedores que escolhem um jogo por este atrativo também preferiram comparecer aos grandes jogos e evitaram os jogos com menos público.
     Portanto a intervenção estatal, nesse caso, objetivando defender o consumidor, termina por fazer o oposto, entregando um produto de menor qualidade, pois se um estádio cheio é um aspecto desejado ao assistir um evento esportivo, então o código acaba por causar mais jogos com baixo público e utilização ineficiente das capacidades dos estádios, que muitas vezes são estatais. O consumidor não é idiota ou um pobre coitado que precisa de uma atitude paternalista para defendê-lo. O mercado fornece outras opções, quando opera livremente. Entre essas opções está a de simplesmente não consumir. Pela média de público dos estádios, parece que foi essa a opção escolhida pela maioria dos torcedores, mesmo com a intervenção estatal para "ajudá-los".
     

domingo, 14 de outubro de 2012

Proposta de sistema eleitoral para o Brasil


O nosso sistema eleitoral tem muitos problemas. Isso é conhecido por todos. A maioria da população não lembra em que votou para deputado ou vereador. Portanto grande fatia do eleitorado não sabe a quem cobrar as suas demandas para se fazer representado no poder legislativo.
A solução simples seria adotar o voto majoritário, já adotado nas eleições para o executivo e para o senado, também conhecido como voto distrital, porque se dividiria o território em distritos, com cada um destes elegendo um único representante. A vantagem desse sistema é que todos sabem quem é seu representante. Ninguém pode alegar que não sabe quem é o prefeito, o governador ou o presidente da república. O mesmo aconteceria com os representantes nos legislativos. O seu representante seria o deputado ou vereador que ganhou a eleição no seu distrito.
Apesar da sua simplicidade o voto majoritário tem alguns problemas difíceis de ser superados. Um deles é que um partido que tenha tido uma expressiva votação tenha bem menos cadeiras no parlamento se comparado a votação obtida, assim, ficando sub representado, enquanto outro partido ficará super representado.
Uma solução para esse problema seria a síntese dos dois sistemas eleitorais, o voto distrital misto. Nesse sistema, metade das cadeiras do legislativo são ocupadas pelos representantes dos distritos e a outra metade é completada de acordo com a proporção de votos obtidos.
Por exemplo, São Paulo tem 70 deputados federais, portanto, o estado seria dividido em 35 distritos, cada um elegendo um deputado, e os outros 35 deputados seriam eleitos proporcionalmente. Faça-se uma simulação para ficar mais claro. Um partido x venceu as eleições em 14 distritos, porém obteve 30% dos votos em todo o estado, então o calculo seria o seguinte: 30% de 70 equivale a 21, como o partido já tem 14 deputados através do voto distrital, então ele ficaria com 7 cadeiras daquelas 35 destinadas ao voto proporcional. O partido x ficaria com 21 cadeiras na câmara federal, número proporcional aos votos obtidos em todo estado.
Na Alemanha, onde foi criado o voto distrital misto, os deputados eleitos proporcionalmente são escolhidos por lista fechada. Essa lista é feita pelo partido antes das eleições. No caso do Brasil, onde as lideranças partidárias são vistas com desconfiança, poderia ser adotada a lista aberta, mais próxima da tradição democrática brasileira. Essa lista seria preenchida pelos candidatos do partido mais votados nos distritos que, obviamente, não venceram em seus distritos. Assim, voltando ao exemplo do partido x, os candidatos A, B, C, D, E, F, G e H, todos do partido x, perderam nos distritos, mas obtiveram, respectivamente, 10%, 12%, 48%, 25%, 35%, 29%, 19% e 15% de votação em seus distritos. Nesse caso as 7 cadeiras obtidas pelo partido x seriam preenchidas pelos candidatos C, E, F, D, G, H e B, nessa ordem. Para o número de candidatos de cada lista partidária ficar igual ao número de cadeiras disputadas, o restante da lista seria preenchida com os suplentes dos candidatos distritais.
Acredito por esse sistema proposto guardar muita semelhança com o nosso sistema atual, ele enfrentaria menos oposição do que o sistema distrital puro ou proporcional de lista fechada. É o melhor sistema quando se considera a tradição e os costumes eleitorais brasileiros.